22.9.04

Último dia de Inverno

(um pouco de prosa)

Sei que ando um pouco otimista demais. Ou, nem tanto. Mas, ultimamente, estou vendo o lado bom das pessoas, o lado bonito. Aquilo que me encanta, que é feito pra encantar. Um aperto de mão, uma simples conversa. Um olhar de carinho, um gesto diferente dos mais triviais. Sei também que é culpa só minha, fruto de minha relação com o meu mundo e o externo. É, esse mundo rápido, feroz, violento. Sei também que perceber só esse lado é limitar-se ao comum. E, o que é mais importante, ocultar um sentimento. Sei que isso pode me distanciar de algumas pessoas, que ficarão espantadas, pela estranheza da minha saudade das coisas que nem conheço, dos sentimentos que ainda não vivi, das lágrimas que ainda não caíram. É culpa só minha, que insiste em viver intensamente, tentando transformar poucos segundos em eternidade, tentando agarrar sensações com as mãos e fazer com que os outros tentem o mesmo.

Não sou anjo, não sou tão especial assim. Mas prefiro ser errante a negar aquilo que me move, que me dá vida. E sim, já não são tão raros os meus adeptos.

E sigo, sem me excluir do que é real e rígido, mesmo parecendo, aos mais prosaicos, enxergar enfeites de neve sobre areias tórridas.