13.10.04

Poucas palavras

Pouco a pouco,
Esvaíram-se, muitas palavras.
Então, o que restou?
Apenas as falas simples,
De cunho comum.
Onde os sonhos já não são mais
Tão bem contados
Como aqueles de outrora.
E como era bom saber que o sonho,
Ao ser compartilhado,
Poderia ser mais que um.

E os amores, como ficam?
Se estão preferindo rudes atos
Às deslumbrantes
E não tão imediatas
Declarações sensatas?
Sobram apenas
Sobras exatas,
Que estão bem distantes
De uma revelação
De um palpitante
E apaixonado coração.

E o sexo, como fica?
Tão latente, tão presente,
Tão misterioso?
Sem as frases certas,
Fica errante,
Hesitante,
Sem o mesmo ardor dos corpos
Em plena ebulição.
Sem o mesmo prazer,
Ao pé do ouvido,
Interpretando tal exaltação.

E, ao limitar as falas,
Os desavisados que o fazem
Deviam ter mais cuidado.
Sim, o silêncio é fácil,
O que não o é querer
Que alguém consiga fazer
De um sonho,
De um amor
Ou volúpia dos amantes
Algo tão passageiro
Como ler um prefácio.