23.10.04

Tudo ao mesmo tempo, agora

Logo ao chegar,
Sentimentos, à flor-da-pele.
Um olhar, mesmo breve,
Diz mais do que deve.
Sorrisos, caras tristes,
Ao redor, é o que vejo.
Apesar de tudo, estamos aqui.
Sabemos que poderíamos acreditar mais,
Mas o nosso ego, responsável,
Nos faz pensar demais.
E, rápido, mais um vagão chega.
E mais um segue, nos corredores,
Livros nas mãos, novos amores.
Pensamentos que consomem.
Sonhos, estertores.

Ah, o nosso ego, responsável demais,
Nos amedronta perante o desconhecido.
Nos faz negar sentimentos.
Enquanto mais uma breve conversa
Nos faz preocupar
Com os novos acontecimentos,
Que de nada são úteis,
Defronte os olhares,
Desejos, nada fúteis...
...se aproxima, mais uma vez,
O momento de mais um adeus.
E mesmo que um de nós acreditasse
Que amanhã seria diferente,
Ao chegarmos, não o faríamos.
Quem sabe, um dia, não seremos tão descrentes?


13.10.04

Poucas palavras

Pouco a pouco,
Esvaíram-se, muitas palavras.
Então, o que restou?
Apenas as falas simples,
De cunho comum.
Onde os sonhos já não são mais
Tão bem contados
Como aqueles de outrora.
E como era bom saber que o sonho,
Ao ser compartilhado,
Poderia ser mais que um.

E os amores, como ficam?
Se estão preferindo rudes atos
Às deslumbrantes
E não tão imediatas
Declarações sensatas?
Sobram apenas
Sobras exatas,
Que estão bem distantes
De uma revelação
De um palpitante
E apaixonado coração.

E o sexo, como fica?
Tão latente, tão presente,
Tão misterioso?
Sem as frases certas,
Fica errante,
Hesitante,
Sem o mesmo ardor dos corpos
Em plena ebulição.
Sem o mesmo prazer,
Ao pé do ouvido,
Interpretando tal exaltação.

E, ao limitar as falas,
Os desavisados que o fazem
Deviam ter mais cuidado.
Sim, o silêncio é fácil,
O que não o é querer
Que alguém consiga fazer
De um sonho,
De um amor
Ou volúpia dos amantes
Algo tão passageiro
Como ler um prefácio.