22.9.04

Sentidos

Paro, olho, escuto.
Aflorados estão os meus sentidos.
Desesperado, corro até onde você parece estar.
E te vejo, com toda a serenidade que lhe é peculiar.
Já não mais posso te dar aquilo que, um dia,
Quis viver, contigo e só contigo.
Mas, qual a minha surpresa
Ao saber de ti,
Naquilo que parecia ser a última canção,
Que ainda podemos acreditar
Naquilo que para mim já não mais era possível,
Naquilo que já parecia milhas distante de meus pensamentos.
Tua boca, ao sorrir, me traz imenso contentamento,
Me faz crer que estarás, corpo e alma, ao meu lado.
E, apesar de meus sentidos estarem inebriados
Com a volta do intenso sentir que é o Amor,
Ainda consigo enxergar, com as tuas mãos entrelaçadas às minhas,
Outro sentido, sem impedimentos,
De um longo caminho, ainda longínquo,
Que tende a ficar mais e mais próximo
Através do nosso único guia,
A nossa, inata, luz.

Último dia de Inverno

(um pouco de prosa)

Sei que ando um pouco otimista demais. Ou, nem tanto. Mas, ultimamente, estou vendo o lado bom das pessoas, o lado bonito. Aquilo que me encanta, que é feito pra encantar. Um aperto de mão, uma simples conversa. Um olhar de carinho, um gesto diferente dos mais triviais. Sei também que é culpa só minha, fruto de minha relação com o meu mundo e o externo. É, esse mundo rápido, feroz, violento. Sei também que perceber só esse lado é limitar-se ao comum. E, o que é mais importante, ocultar um sentimento. Sei que isso pode me distanciar de algumas pessoas, que ficarão espantadas, pela estranheza da minha saudade das coisas que nem conheço, dos sentimentos que ainda não vivi, das lágrimas que ainda não caíram. É culpa só minha, que insiste em viver intensamente, tentando transformar poucos segundos em eternidade, tentando agarrar sensações com as mãos e fazer com que os outros tentem o mesmo.

Não sou anjo, não sou tão especial assim. Mas prefiro ser errante a negar aquilo que me move, que me dá vida. E sim, já não são tão raros os meus adeptos.

E sigo, sem me excluir do que é real e rígido, mesmo parecendo, aos mais prosaicos, enxergar enfeites de neve sobre areias tórridas.

3.9.04

Rio perene em árido terreno


Como podemos lutar contra uma força maior,
Quando o ser ou não ser não tem importância?
E sim, nosso poder de decidir viver,
Até onde viver esteja longe de ser uma escolha.

Mesmo aqui, onde eu e você
Podemos nos vangloriar de estarmos vivos
E, vivazes, sabermos que nem a maior seca
Poderá atingir nossa perene essência.

O que nos resta é continuar,
Sem sermos cartesianos, provincianos,
Nos preocupando conosco e com o mundo ao redor.

E assim, constataremos, pura e simplesmente,
Que, apesar de esta escolha parecer um naufrágio,
Estamos no cume, com o caos ao nosso redor.