22.10.05

Coloquial

Vez ou outra, percebo
Que caio em mim - me vejo,
Sofrendo as ações da Vida,
Amando
Andando
Sorrindo
Correndo
Errando
E então nem todos os acertos são contados
Mas quase todos os equívocos são cobrados.
Deixo a luz ofuscar minha visão.

E então, os tempos de outrora
Não voltam, mas são reciclados,
Como em um grande redemoinho;
Não se trata de ser bom ou mesquinho:
Nada que parece é tão finito assim.
E com o coração às alturas,
Com as melhores intenções que talvez
Estejam no Inferno,
Passo pelas pessoas,
Tentando
Expressando
Entendendo
Mas nem sempre esperando:
Nem todo arco-íris deve guardar um pote de ouro.

Em todos os bons e maus momentos,
Não quero partir de princípios
Nem mostrar diferenças;
É como colorir nuvens,
Sentir a eufonia,
Demonstrar tristeza, alegria
Sem esperar recompensa.
Mas, tem gente que pensa,
Nem todo crime compensa.

E então, o cego consegue notar
Que a visão pode ouvir,
E que nem tudo está perdido;
Só lá do Espaço, dizem, é possível,
Ver a Terra como ela é mesmo,
Por fora:
Este azul não é tão triste.

Experimento nascer ao morrer do dia,
E ressuscitar ao nascer da noite.
Mesmo sem nenhum pássaro na mão,
Tento olhar a compaixão
No vôo alto, altivo
Levantando
Transformando
Explodindo
Para que tudo, todos
Consigam enxergar.

Só é preciso tempo para compreender.


21.10.05

Horas incertas

(Tudo bem, pessoal? Este poema foi baseado no conto de Machado de Assis, intitulado "O Relógio de Ouro" (leitura recomendadíssima!). Confiram, abaixo...)


Ó mulher, teu olhar dissimulado
Faz-me querer saber mais dos fatos.
Quando te esquivas, começo a perder
A noção dos meus atos.
O que este relógio faz nesta casa,
E por que finge nada saber?
Estes minutos inúteis
E teus gestos fúteis
Despertam em mim
Violência e ignorância,
Visto que esta história
Está longe de um fim!

Ah! Eis que chega teu pai.
Por um momento, deixo para depois
Continuar com teu sofrimento.
...e quando, no quase jantar,
Teu pai me faz lembrar
Que faço anos amanhã,
Não posso dizer aqui
Quão grande foi meu arrependimento!...
Peço desculpas, te imploro perdão!
Mas quando me dizes que não,
Que nada disso é verdade,
Não consigo manter minha mente sã!

Basta!
Desta feita,
De nada adianta a distância.
Quando não tenho o que quero,
Vou até a última estância!
Subitamente, te encaro:
Diga-me agora!
Porque ninguém lá fora
Poderá te livrar!
Fale-me – ou vou te matar!
Mas o bilhete que mostras
Faz-me perder as apostas...

Como posso explicar
O bilhete, o relógio,
Tudo o que há,
Se estou a mercê de um motim,
Que não foi criado por mim,
Mas por alguém que se diz minha?
Uma tal,
Não sei se do bem ou do mal,
Mas... quem saberá?
Só sei que esta desventura
Que só me trouxe amargura
Tem um nome:
Iaiá...

4.10.05

Observo

(Pois é, após um pequeno hiato, estou de volta...) =]


Vejo, como um mero espectador,
O mundo crescer, ao meu redor.
Pessoas que vão, sentimentos que ficam.
E não há nada que eu possa fazer.
Sei que as forças humanas são impotentes
Perante o fluxo frenético da Vida.
Quisera eu, poder, além de só observar,
Criar um mundo que aproveitasse a dor
Pra recompensar tudo o que a dor pode trazer.

Olho para cima, esperando que o Céu
Possa me trazer alguma resposta.
Ah, se fôssemos capazes
De querer que o nosso ser mesquinho,
Inábil e egoísta
Sofresse um abalo, com uma força,
Inata, porém latente,
Vinda da Alma, sem perguntar o porquê...

Apenas observar
Não mostra que quero bem mais que sabes.
Mostra apenas que o notar
Vem com Esperança, vem com Tristeza,
Mas, ainda, repleto e corajoso,
Capaz de te olhar com Compaixão.